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Esta casa centenária, cada vez mais vazia, já resvés ao abandono, continua a espantar, pela força que a mantém erguida…
Velhos vizinhos, que já nasceram vizinhos de pai e mãe, não usam telefone ou telemóvel. São vizinhos velhos na idade e no costume de pôr pernas ao caminho para se apresentarem de corpo inteiro. Falam-nos de viva voz, olhos nos olhos, no tempo certo.
Arrastam os pés pela calçada irregular, em passos pequeninos de medo, atravessam a rua, batem à porta:
Aqui estou eu, para tomar parte no sucedido!
Vêm confirmar as suspeitas, e acalmar o desassossego que os tomou pela madrugada, ao verem as paredes do quarto tingidas de azul intermitente.
Contam da aflição que sentiram, e contam poder valer no que forem capazes.
Trazem no bolso, um frasco meio de mel, caso o mal seja do peito, mais a recomendação a um parente que trabalha no hospital, sempre disponível para o que for preciso.
Pouco mais podem, do que gestos e palavras, conforto e esperança.
Partem, deixando a promessa de voltar em breve, por melhores notícias. Entretanto, e à cautela, juntam as dores vizinhas às suas preces.
Velhos vizinhos, escoram a casa…
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