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Tia Micá Coutinho, nascida Maria do Carmo Ataíde e Cunha, e Ti Micas Trauliteira, de sua graça completa Maria e mais nada, que de onde lhe veio o traulito não tem memória, (foi do marido que Deus tem, mas nem quer que lhe lembre) estavam destinadas a formar um par, partilhando a mesma sorte.
Isto das sortes, vai dos nomes, é bom de ver. Chamem-lhe cisma ou preconceito, mas não é baldeado o tempo que se perde com nomeações. Siga!
Sentadas lado a lado, abrem os olhos alternadamente, ora um, ora outro, a horas pares o direito, a horas ímpares o esquerdo. Dormem como os pássaros empoleirados, cai, não cai, numa só pata. Às meias horas trocam de poiso, sem nunca deixar a dupla descalça. Somadas as patas, fazem duas. Micas e Micá, são uma só sorte emparelhada.
Para lhes atormentar o sossego, e o equilíbrio de sempre-em-pé, estão do outro lado da gaiola, quatro marmanjos inominados, que por tudo e por nada se engalfinham aos pares. Como quarteto de cardeais, abancados frente a frente, à moda de rosa dos ventos uivantes, para uma partida de cartas. Intermináveis batalhas de vazio no anonimato. Assim se passam os dias, ou noites, ou o que for. Já o tempo não tem nome, e vai de puxar a manilha e bater com ela na mesa, que é como quem diz, toma lá que já te quilhei, para de seguida engolir em seco, porque o dois era de trunfo (o de Ouros, por sinal). Corta, não corta, descobre-se a manigância e está a barraca armada. Dois por dois, dá sempre empate e no futebol ganha quem marca. Só mais um já é ganhar. Mas há regras, há preceitos a cumprir: Meus amigos tenham juízo! Haja lisura meus senhores!
Com gente desta laia, um desassossego, uma maçada! O diabo a sete, o cabo dos trabalhos, a dobrar!
Miquinhas, Miquinhas, vamos embora! Estamos à espera de quê?
Esperamos pela visita dos filhos que não tivemos. Os que temos não podem vir!
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