Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Quem me ensinou a morte impura para se dizer? Quero falar do Telmo. Vou falar do Telmo. O Telmo está morto.
Conheci-o num desses altares de memória, adornados de flores e cera, que presumem vencer o esquecimento. Era recente a sua eternidade, recém acrescentada a minha saudade, também.
Nunca o conheci de outra forma. Tornou-se referência minha, num dia de desnorte. Perdi-me, sim! Perdi-me literalmente, num labirinto de ramos viçosos e flores murchas, retratos, nomes, datas, estátuas e estatuetas, cruzes e crucifixos, lamparinas, pedras lavadas, pedras sujas e gastas, montes de terra revolta, pequenos ressaltos de terra em que tropeço.
Desorientada, sem haver a quem chamar em auxílio, por inexistir quem venha por mim guiar o caminho, deixei-me cair de joelhos.
Não é bom chorar pela manhã, ao acordar. E eu não choro! Eu atiro-me para o chão e semeio a raiva como uma criança contrariada nos seus caprichos.
O Telmo sorria para mim, um perpétuo sorriso forçado de foto tipo passe. Gravados em bloco de granito cinzento, letras e números riscados na pedra, sobre o peito.
TELMO P.
xx-xx-1992
xx-xx-2014
ETERNA SAUDADE
Miúda mimada, de que é feita a tua dor?
Do mesmo pó e lama com que me choram?
Ergui-me.
Como te atreves?
E era logo ali. A dois passos.
O que busco não é nada, mas afeiçoei-me à lomba de terra, e no caminho o Telmo é referência.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.