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O paizinho, já tocado pela loucura que no futuro o irá tomar por completo, continua a manter o aprumo. Abre a gaveta, escolhe de entre as camisas brancas, as que lhe parecem mais alvas e bem engomadas. Com todo o cuidado, acomoda-as uma a uma, na maleta pousada sobre a cama. Diligente, verifica pregas e alisa rugas, ajeita punhos e compõe colarinhos. Está tudo em ordem. Junta os fechos, afivela as correias, e sai para ir apanhar o navio. Tem assuntos de grande importância a tratar no continente, convém que se apresente à altura das circunstâncias. Mal transpõe a porta do quarto, é assaltado pela dúvida – Terei as camisas em ordem? Pousa de novo a maleta, abre-lhe a tampa e avalia – Esta vai em cima, para não se enrugar! Esta vai em cima, para não se enrugar! Esta vai em cima… Sai ligeiro rumo ao cais, não vá perder o navio.
A mãezinha, recém acostumada ao sobressalto que no futuro lhe vai consumir os dias, mantém o aprumo. Tira o casaco de fazenda do armário, aconchega o lenço ao pescoço, compõe os ganchos no cabelo. Deixa para trás, meia dúzia de camisas brancas sobre a cama. Sai apressada, evitando escorregar nos seixos da rua que leva à praia.
O dia está a acabar, o mar está calmo, os pescadores remendam as redes encostados ao casco dos barcos. Olham o homem parado ao fundo do trapiche, fixo no horizonte. Olham, remendam e comentam – Está outra vez, à espera do navio!
O paizinho volta para casa. Voltam os dois de mão dada. A mãezinha, traz maleta vazia.
Olham, remendam e comentam – Nesta ilha não atraca navio!
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