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Cabeças que rolam, não gritam depois da lâmina se juntar ao cepo. É esta a regra que sabe e conhece desde sempre. Antes, angústia e desespero, esgoelam-se em gritos de horror. Em seguida, silêncio.
Ao nascer do dia, súplicas por misericórdia, bateram delicadamente na vidraça da sua janela, rogando pela execução.
Trocar a cabeça pelos pés, escangalha a ordem das coisas, mas nada retira à força dos seus braços. Também conhece o momento em que a esperança abandona o condenado para o fazer implorar por pena breve. Não se deixa enlear, nada o perturba, não há o que o espante.
Sabe o que tem a fazer.
Decepou-os com um só golpe. Partiram dançando, para se perderem nas profundezas da floresta. Voltarão mais tarde para lembrar, por ora afastam-se para dar tempo e sossego.
Tomou-a nos seus braços. Era leve, muito leve. Só o pouco peso de quem é pouco mais que uma menina.
Levou-a para dentro, para a estender sobre o colchão de palha que lhe serve de cama. Rasgou duas tiras do vestido gasto pela dança interminável de dias e noites, ao sol e à chuva. Com elas enfaixou as pernas que acabara de mutilar, usando toda a brandura possível à brutalidade das suas mãos brutas.
Depois saiu, levando consigo o machado. Esse sim, é inquieto, ávido pelo corte, incapaz de refazer.
Nada disse, saiu.
Deixou-a só, na solidão que governa a casa de um carrasco.
Fez-se noite, ele tornou.
Tinha talhado para ela, pernas de pau e muletas.
Ofereceu, ela aceitou.
No lugar dos pés, as ligaduras tingiam-se de um vermelho tão intenso e brilhante como o dos sapatos.
Antes de partir, ela beijou-lhe as mãos.
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