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Por ser sempre tão atento aos meus desejos e condescendente para com as minhas vontades – talvez até um pouco permissivo nos caprichos – era difícil compreender aquela recusa definitiva e incontestável.
Não se abre!!!
Eu argumentava com razões que me pareciam evidentes. Fazia parte do pedido de notícias, das saudades e dos beijinhos, nas costas do postal. A possível nota de vinte escudos para ajudar à compra dos patins, estaria à minha espera entre as duas folhas da carta perfumada. Se fosse uma daquelas encomendas que o Sr. Fernando trazia no fundo do saco de couro, podia contar com os caramelos embrulhados no papel Kraft, ou quem sabe, com a camisola tricotada. A avó nunca se esquecia de mim.
Protestava a injustiça, pedia justificações.
Não tem o nosso nome no destinatário, não abrimos!
Toda a intimidade é inviolável. A correspondência entre mãe e filha, ainda que inclua a neta, também.
Para não me ver triste, dava-me abraços e beijos, ou cinco escudos para pôr no mialheiro, ou uma sombrinha de chocolate e prometia que íamos os dois aprender a tricotar. Ficávamos à espera que a mãe voltasse na sexta-feira, para revelar o que era dela.
Ensinava-me o respeito, mas sem querer que eu soubesse que repudiava um direito. Talvez, por o considerar de tal forma aberrante, nunca quis que o conhecesse.
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