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Tenho a estranha sorte de ter o sono limpo de sonhos. Desafiar o entendimento, em nada altera a noite, mas pode transformar a manhã.
Esfregou as mãos no avental branco para se assegurar de que estavam limpas.
"Homem-da-boia, ao ser dispor!"
Estranhei a mesura, não a sua presença. Sempre lá esteve, no entanto, por motivo que me escapa, nunca me tinha demorado neste homem. É natural que volte agora, para que se deixe conhecer.
"A comida dele está pronta."
Lentamente, cruzou os braços por cima do arco da barriga como quem aguarda com paciência por resposta depois de ter dado o primeiro passo. Era a minha vez.
"Já não será necessário, ele…"
A cadência com que indicador direito batia acima do seu cotovelo esquerdo, revelava um certo desconforto.
"Estou a par do sucedido! É de lamentar…"
Deu ao rosto redondo uma expressão grave de pesar e em simultâneo arredondou os braços no arco inverso, tentando juntar os dedos sob a barriga.
Percebi que por aí não era caminho, tentei corrigir a rota.
"Podia ter sido diferente?"
Encolheu os ombros, recompôs o rosto.
" Fiz o que faço sempre, atender à boa vontade das amizades, contar as pratas, alimentar falsários…"
"Seria este o caso?"
De novo as suas mãos se esfregaram no avental.
"Tem toda a razão, o caso é outro… Ouviu os boatos?"
Finjo-me acima dos rumores, contudo ambos sabemos que os conheço.
"Se me permite que lhe diga, nem cartas, nem extravios! Foram os biombos, os muros… toda espécie de alvenaria. Acredite, foi a parede!
Ao que está completo, nada posso acrescentar, mas por muito que o negue, a cabeça pede um sentido.
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