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Que posso eu dizer, desta minha ferramenta? Chamar-lhe companheira, seria bonito e era justo! E que mais? Tem a tinta lascada, está velha! Pois está, e ainda bem!
Começámos juntas. Ela condenada pelos tempos, "Tem os dias contados", e eu avisada pela experiência, "É a mão que domina a lapiseira, não deixe que a lapiseira a domine!"
Lérias!
Por mais que os tempos me assistam a criação, por muito que modelos e parâmetros me auxiliem nas soluções, é pela lapiseira que as ideias chegam ao mundo. Creio mesmo, que é um canal de duas vias, por onde tanto sai, como entra o pensamento.
Quando nos conhecemos, o menino do poço era já um homem. Mais do que um homem, pareceu-me à primeira vista, um feroz guerreiro, de quatro côvados e um palmo de altura, capaz de me esmagar com um só piscar de olhos. Nem tanto me intimidaram, a corpulência excessiva ou cabelo e barba desgrenhados, que compunham a figura de um jovem Adamastor, mas o olhar, ora esquivo, ora intenso, sim, causou efeito. Receava, sobretudo, que me entendesse como um desafio. Seja o que for - pensei - teremos que nos entender!
Não tardou a revelar, como o divertia apresentar esse cartão de visita enganoso, prontamente desmentido com modos brandos e palavras moderadas.
Deu um murro na prancha, "Deixa-os falar! Manda-os f@der!", olhou-me nos olhos e ofereceu-me a sua lapiseira. Recebeu-me bem.
A lapiseira está velha. Eu e o menino do poço também.
É bom que assim seja!
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