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Agora que tenho vinte e um anos de idade, nasceu-me um menino. Depois de casar vim morar com os meus sogros e vivemos todos juntos em boa paz.
Por uns tempos andei desanimada. Ao invés de outras que rápido alcançam, eu demorei. A minha sogra sempre me acarinhou, para que tivesse fé que cada coisa vem na altura certa. Com ela também assim foi, e eu não devo estranhar, porque agora pertenço a uma família de filhos únicos que às vezes tardam. É uma boa mulher. A ela chamo mãe, como é costume, e faço gosto nisso.
Depois, enquanto andei de esperanças, não me chegaram os enjoos nem os desejos, só uma moleza pouca nos primeiros tempos que logo passou, o que ganhei foi medo. Não medo de dores ou sofrimento, mas o medo de perder a criança. Tornei-me cismática, como nunca tinha sido. Para me sossegar, dizia a minha sogra que pôr um filho ao mundo não tem mistério nenhum e que havíamos de falar a uma parteira para vir a casa ajudar-me a dar a luz e cuidar de tudo o resto. Mas eu comecei a empreender no por aí se fala: das crianças atravessadas, das que vêm de pés, das que trazem o cordão enrolado no pescoço. Vinha-me à lembrança o sucedido a uma rapariga da minha criação, que Deus a tenha! A comadre não lhe conseguiu valer, o médico já chegou tarde, perderam-se os dois, ela e o anjinho, que Deus os tenha.
De maneira que ganhei amizade à minha sogra, e não foi por não lhe ter respeito que na minha cabeça foram se pondo outras ideias para quando viesse a minha hora. Como não quero criar desavenças, ao princípio não disse nada a ninguém. Só mais para o fim falei ao meu homem. Ele é muito meu amigo, sabe ouvir das minhas razões. Contei-lhe que fazia tenção que as coisas fossem de outro jeito, ao que ele respondeu que se fazia como eu entendesse melhor. Eu achei por bem que nascesse no hospital e foi assim que aconteceu. Poucas são as que fazem como eu, mas não me arrependo. Tive um menino são e escorreito que há-de ser um homem grande e forte, se Deus quiser. Quem sabe seja este o único.
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