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5º Domingo

por esquisita, em 18.03.24

 

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Não são velhinhos (nem coitadinhos) sentados num banco de jardim, a ver passar o tempo. São dois homens a fazer planos para o futuro.
Estão a combinar porcarias (nem sujas, nem indecentes, atenção!) para pôr fim à abstinência.
Vai ser leitão, está decidido!!

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Filhas do (mesmo) pai

por esquisita, em 13.03.24

 

Vinha desvairada, largava fogo pelas ventas e chispas pelos olhos. Saltou abaixo da carroça e uivou
– Ide, ide! Voltai sem demora para o criador!
nisto, desata a enxotar as almas todas com o cabo da gadanha
– Andor!
– Falta-te um! Qu’é dele?
A fúria que trazia enrolada ao pescoço fê-la abrir as goelas, alto e bom som
– Não é vossemecê que sabe tudo o que se passa ainda antes que aconteça!?
– Então rapariga! Que modos são esses!?
A víbora que lhe sufocava a garganta alassou as voltas.
– O respeitinho é muito lindo!
Desta vez nem tugiu nem mugiu.
– Vá, desembucha! Qu'é dele?
insistiu o pai.
Deixou-se calada, a remoer.
De mansinho, abeira-se a irmã em seu auxílio.
– Bem conhece o sucedido! Nada se passa sem que primeiro o tenha engendrado. Que proveito lhe trás, que ela reconheça a falta?
– E tu com isso!?
se as quisesse assim amigas, não as teria feito tão diferentes
– Não te metas ao barulho! Contas são contas, e é só a ela que as estou a pedir!

As irmãs trocaram um olhar intrigado. Não era a primeira vez que um ficava para trás e era certo e sabido que mais cedo ou mais tarde cá haveria de tornar. Porquê aquela teima em que lhe contasse o que houve?

– Quer então que lhe dê satisfações!? Pois aí tem: quiseram-me, mesmo sabendo quem sou, porque não haveria eu de aceitar?
– Não é daí que vem mal ao mundo! acresceu a outra, mas ele fez orelhas moucas à achega
– Deixa que fale! E depois?
- Sendo eu madrinha, quis prendar o meu afilhado e fiz do rapazola um doutor…
– Um doutor da mula russa, queres tu dizer! À conta do vosso acordo, andou ele a intrujar quantos pôde…
– Quantas trapaças há no mundo, sem que o senhor lhe ponha a mão para as corrigir!
tornou a irmã, sem o conseguir interromper
– … na primeira curva trocou-te as voltas e a cabeceira pelos pés, para te comer as papas na cabeça! Lindo serviço!
A estocada foi direta ao orgulho e ela mais não pode do que soprar com bafo gélido
– Fui enganada, bem sei!

A irmã apiedou-se dela. Quanta dor ninguém a querer, tanta solidão fugirem dela, profunda raiva tudo fazerem para a enganar. Quis abraçá-la, chegar ao seu peito imenso aquela figura descarnada e ressequida para lhe dar algum conforto. Mas não se podiam tocar. Nunca puderam. Sempre e só uma podia prevalecer sobre a outra.
Estava derrotada, mas faltava ainda que se fizesse luz

– Aceitaste ser comadre do homem que me rejeitou para padrinho, foi o que foi! Parabéns Comadre Morte!
Estava explicado o azedume do senhor pai.

 

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Igual

por esquisita, em 08.03.24

 

Ao sábado, se os rapazes arranjavam algum biscate, o grupo ficava dividido. Juntavam uns bons trocos a fazer cargas e descargas, na substituição de cartazes publicitários, em pequenos arranjos e demolições. Tudo tarefas que podiam ser executadas tanto por uns como por outras, mas para as quais só eles eram escolhidos. Para nós era mais difícil ser bem pagas nesses trabalhos ocasionais de fim de semana. No melhor dos casos, uma cabeleireira mais concorrida podia aceitar meninas para lavar cabeças, durante a manhã, e ainda assim o valor do pagamento dependia das gorjetas.
Depois do almoço, juntavam-se as raparigas para estudar num café meio manhoso, que ficava no primeiro andar de um prédio antigo. Por não ter porta direta para a rua e nunca se saber quem se iria encontrar lá em cima, o local ganhou fama duvidosa. Na verdade, embora em certas noites lá se fizessem muitas e boas farras, a maior parte do tempo era um local sossegado, onde se podia, entre conversas banais e risinhos abafados, encontrar o silêncio suficiente para rever matérias e preparar exames. O café era mais do que o ponto de encontro e de convívio. Era uma espécie de casa comum.
Foi no final de uma dessas tardes, depois de voltarem com uma nota no bolso e disposição para pagar tostas mistas a toda a gente, que alguém deu a entender que ela estava a precisar de ter uma conversa privada comigo. Os recados enviados por portas travessas, conhecidos como “indiretas”, eram frequentes quando se queria tratar de assuntos sentimentais. Muito senhores do nosso nariz, acreditávamos ser donos de uma maturidade que ainda não tínhamos. Vivíamos em fase de transição, tentando conciliar as relações amorosas que iam surgindo, com relação geral de amizade que unia o grupo. Os amores entre amigos traziam instabilidade e eram em simultâneo uma consequência e uma ameaça à união. Pensei, por isso, que talvez ela me quisesse falar do seu interesse por algum dos rapazes, para deixar claras as suas intenções e prevenir mal-entendidos caso eu também estivesse interessada nele. A conversa insinuada, não aconteceu nesse dia nem no domingo, quando era hábito irmos todos juntos ao cinema. Pareceu-me até que evitava estar a sós comigo. Passou uma semana sem que me dissesse o que tinha a dizer.
No sábado seguinte esperei ao fundo das escadas e fui eu que pedi para falar com ela em particular, enquanto os outros subiam para o café.

[...]

Foi tempo de descoberta. Não sou em contraponto nem sigo a voz corrente, e se agora sei que não posso responder inteira ao amor que me oferecia, não foi sem conhecer que o recusei. O grupo separou-se, a amizade mantém-se.

 

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Domingos e feriados

por esquisita, em 04.03.24

 

Sabem aquelas pessoas que se agarram a um pormenor que lhes chama a atenção e depois ficam um ror de tempo especadas a olhar e a pensar sabe-se lá em quê? E já ouviram falar daquelas que quando tudo lhes interessa lhes dá a filoxera e acabam por se ir embora com a sensação de não ter visto coisa nenhuma?
Esses, talvez não sejam das vossas relações – é tudo gente esquisita, que volta vezes sem conta ao mesmo sítio, como se não tivesse mais nada com que se entreter – mas concerteza conhecem os que se queixam de não saber o que fazer nem onde ir, porque o dinheiro não dá para tudo. Seja lá pelo que for, todos gostam de uma boa borla, é aproveitar! Aos Domingos e feriados

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Este é o Domingos, do Soares dos Reis

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Remédio

por esquisita, em 01.03.24

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Engolir de uma só vez!
Agora diga comigo:
Para maus sonhos…
…insónias!
O que não tem remédio…
…Cura!?
Jejum rigoroso…
…para fome louca
O que arde…
…remediado está!
Vá lá, sorria!

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