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Não tenho por hábito tomar notas dos livros que leio. O que fica da leitura é, inicialmente, uma ideia clara e intensa que, com o tempo, se vai tornando mais difusa e muitas vezes acaba mesmo por se afastar da referência que lhe deu origem. É um processo que não controlo, mas que reconheço como sendo um dos motivos pelo qual me agrada tanto ler.
Não sei bem como se formou, só sei que não está perdido. A verdade é que, com frequência, me surpreendo com o que fica registado na memória.
Guardei este como um recado, uma espécie de receita para uma experiência que gostaria de viver no futuro. Tem um caráter prático e serve para descobrir o que está por baixo da tinta. Passados cerca de trinta anos, vem de uma época em que a tinta nunca me tinha passado pela cabeça mas em que já começava a aceitar que todas as coisas têm o seu tempo. O tempo para a usar, haveria de chegar. É assim:
Despejar o líquido pelo ralo da pia abaixo, fazendo desaparecer a tinta*. Não é altura para buscar motivos que justiquem os resultados
Espreitar, pelo canto do olho, entre a inveja e a irritação, para cabeças que já lá chegaram. No branco e no vento, procurar o tom da tranquilidade
Fazer conviver a dúvida e a determinação, a urgência da revelação e a esperança que nada tenha mudado
Passar pela angústia de deixar a descoberto aquilo que há muito está à vista de todos e acabar por descobrir a quem importa.
No final só restará o espelho
Suspeito que, para obter resultados verdadeiramente satisfatórios, é necessário começar por descobrir a coragem de acrescentar um NÃO e reescrever a história. Para esse efeito, que até pode ser a causa, a fórmula deve ser mais complexa. Não guardei.
Agradeço-lhe, Sr. Raimundo. Como vê, não o esqueci, mas parece ainda ter mais para me contar. Terei que voltar a visitá-lo.
Até lá, não me resigno.
* Será preferível utilizar um método mais ecológico
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