Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Para trás ficaram os 9
Agora que tenho quinze anos de idade, vim trabalhar para a cidade, servir em casa do irmão da senhora. Ela não era má pessoa. Não sei se por gostar de mim ou por ter pena de nós, mas não ralhava muito e dava-me sempre alguma coisa para levar aos meus irmãos, quando ia a casa, ao domingo à tarde, depois de arrumar a cozinha. Eu estava acostumada àquele serviço, não pensava em sair dali e ir para longe, onde as tardes de domingo não chegam para ir ver os meus pais. Mas o irmão dela precisava de uma rapariga séria e trabalhadora, acertaram as coisas e a senhora disse-lhe que podia ficar comigo.
Ele é doutor de leis, muito conhecido. Aqui, faço os trabalhos de dentro mais leves e sou eu que limpo o escritório. Despacho tudo de carreira e torno a pôr as coisas ao sítio, sem tirar os papeis da ordem nem desmarcar os livros. Não me enleio a ler o que está escrito, porque é melhor que pensem que desaprendi o pouco que sei ler. Também sou eu que vou atender as visitas à porta. Recebem gente importante, por isso deram-me uma farda para estar bem apresentada, e fiquei com um casaco de fazenda que a senhora já não usa, para quando a acompanho até à igreja. O senhor doutor diz que eu devo ir e voltar com ela, mas não preciso de entrar, posso esperar no adro, porque ninguém deve ser obrigado a assistir à missa. Ele diz isto e outras coisas que não percebo. São outros costumes, outras ideias. Como é um homem muito estudado, deve saber o que diz, mas a minha mãe, quando soube desses ditos, logo me avisou que se eu não entrar para receber a sagrada eucaristia, tenho a minha alma perdida.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.